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Ruído é inimigo do ensino nas escolas da cidade

José Gonçalves Neto

Professores e alunos da cidade de São Paulo são vitimas de situações extremas de poluição sonora nas escolas, normalmente localizadas próximo de locais barulhentos como grandes avenidas. A constatação vem de um levantamento prévio realizado em escolas municipais pela equipe de Saúde Auditiva da Prefeitura. em algumas medições, o nível de ruído ultrapassou os 100 decibéis (dB) – Organização Mundial de Saúde (OMS) ressalta que os índices adequados para a aprendizagem devem ficar entre 38 dB e 48 dB.

A pesquisa constata que o ambiente escolar na cidade está altamente contaminado pelo ruído, revela a fonoaudióloga Cláudia Ayub, da Secretaria de Saúde. Como resultado, os alunos tem seu processo de aprendizado prejudicado e os professores ficam sujeitos a uma carga de estresse adicional, resultando na piora da qualidade do ensino.

Os dados levantados pela equipe de fonoaudiólogas da Secretaria Municipal da Saúde na região da Lapa e do Butantã, na zona oeste, impressionam. Durante um intervalo de recreação na Escola Municipal de 1º grau Amorim Lima foram registrados 105 dB durante o horário de recreação – quase o mesmo barulho de um helicóptero (110 dB) ao pousar. Mesmo nas salas em que os alunos se mantiveram em silêncio, o nível de ruído ficou em média nos 80 dB. em outras escolas da região, constatou-se o mesmo problema.

Segundo a fonoaudióloga Akemi Nagata, o problema tem origem em fontes internas e externas. “As escolas ficam em locais barulhentos e foram construídas sem preocupação com o isolamento acústico”, diz. “Isso acaba estimulando as crianças a produzirem mais ruído, numa espécie de cultua do barulho, que só piora as coisas.”

Na semana passada (abril 2001), a reportagem do Estado acompanhou uma equipe de fonoaudiólogos e constatou que os níveis de ruído facilmente excedem os de qualquer legislação trabalhista ou ambiental sobre poluição sonora.

Nas Escolas Municipais de ensino Fundamental Tarsila do Amaral e Roberto Mange, no Butantã, o índice mais baixo, 67 dB, foi registrado numa biblioteca vazia. Em média, o ruído em sala de aula oscilava entre 70 e 80 dB, com picos até 103. Na Escola Municipal de Educação Infantil Tenente José Maria Pinto Duarte, no Sumaré, mesmo com o isolamento acústico para evitar o barulho da Avenida Sumaré, foram registrados índices médios de 75 dB.

Para um período de 4 horas, a norma trabalhista brasileira estabelece que a saúde auditiva é afetada com 90 dB. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o ruído de fundo não deveria passar dos 55 dB. A partir desse ponto, atividades físicas ou intelectuais tem seu desempenho prejudicado e a OMS considera que há início de estresse.

Iniciado no fim de 200, o trabalho ganhou apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e vai ser realizado ao longo deste ano, com a coordenação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em conjunto com a Secretaria Municipal de Saúde.

Extraído do jornal O Estado de São Paulo, Caderno C, pg. 01 de 22/04/2001.

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