O Reinado do Alaúde
Durante quase três séculos o alaúde ocupou um dos primeiros lugares na História da Música. Como instrumento acompanhador do canto foi insuperável pela sua riqueza harmônica e pela delicadeza e riqueza tímbrica de sua sonoridade. Era também a sustentação harmônica dos grupos instrumentais, e para alaúde se escreviam os baixos cifrados, cuja execução exigia grande técnica e treinamento musical. Boa parte das composições para alaúde foram escritas em tablatura.
Na França do século XVII nenhum instrumento gozou de tanta popularidade quanto o alaúde. Aprender alaúde fazia parte da educação dos nobres. Entre os estudantes do instrumento figuram Ana d´Áustria, o cardeal Richelieu e Ninon de Lenclos. No reinado de Luís XIII e durante o ministério de Mazarin floresceram brilhantes alaudistas. Ennemond Gaultier (1575-1651) mestre de discípulos ilustres, foi camareiro de Maria de Médicis em Paris e fez gloriosas turnês por toda a Europa. Seu primo Denys Gaultier publicou a “Retórica dos Deuses” (1640) coleção de árias de danças, cujos títulos estão conforme ao chamado “estilo clássico” da época: “Phaeton atingido por um raio”, “Diana na floresta”, etc. Sua beleza está no colorido tonal e nas harmonias simples mas eficientes apropriadas ao alaúde. Adrian Le Roy, que morreu em Paris em 1598, publicou vários métodos e tablaturas para alaúde e outros instrumentos.
Na Inglaterra, o alaudista mais eminente é John Downland (1563-1626), que no entanto passou boa parte de sua carreira longe da terra natal. Se bem que suas composições para solo de alaúde revelam invulgar talento. Downland talvez seja mais lembrado como criador do canto acompanhado ao alaúde. Sua mais conhecida canção “Lachrimae” é considerada como paradigma das composições do gênero.
J. S. Bach (1685-1750) escreveu 4 suítes, 2 prelúdios e 2 fugas para alaúde, peças que, em sua maioria são transcrições, feitas por ele mesmo, de peças escritas para outros instrumentos. Embora essas composições de Bach, como tudo que ele escreveu, levem a inconfundível marca da genialidade, não podemos deixar de observar que as composições de S. L Weiss (1686-1750), contemporâneo e amigo de Bach são muito mais fluentes, mesmo ns transcrições feitas para o violão.