O Século XIX
Já com as definitivas seis cordas simples, o violão entra no século XIX, onde vários de seus amantes, viveram, escreveram e fizeram sua música. Foi o século da popularização da música, o que talvez explique o florescimento do violão ao lado de formas musicais tão claramente opostas à sua sonoridade intimista como a ópera e a sinfonia. A ópera se transformara numa quase obsessão e a música instrumental pura começa a ser cada vez mais apreciada. Surge a figura do regente que bem depressa adquire extraordinário prestígio, superior, por vezes, ao do próprio compositor, cuja música interpretava. E logo adquiria o hábito de “editar” as obras que regia e assim como Haendel, no século anterior, se insurgira contra os cantores pela liberdade excessiva com que tratavam as árias, no final do século XIX foi a vez de Verdi queixar-se de que o regente havia tomado o lugar do cantor como o maior inimigo dos compositores.
É também o século do piano, cuja mecânica se aperfeiçoa, aumentando cada vez mais sua aceitação, destronando de vez o cravo sobre o qual tinha, além da superioridade do volume sonoro, a de poder tocar piano e forte com todas as gradações dinâmicas possíveis entre essas duas. Essa popularidade entre amadores possibilitou o aparecimento de virtuosos e fez da música um produto de consumo, que devia ser frequentemente renovado para atender à demanda de instrumentistas e plateias. A consequência imediata dessa popularidade era as pessoas procurarem cada vez mais os salões de concerto, e o violão oferecia atraentes alternativas à moda dominante. A sonoridade delicada, o componente pessoal de sua riqueza tímbrica, bastante ligadas ao modo de tocar, ao modo de ser do executante, contrastavam com a impessoalidade das orquestras e com a invariabilidade tímbrica do piano, ao mesmo tempo que era capaz de autossuficiência, não precisando ser acompanhado por outro instrumento. As cordas de tripa e de seda revestida com fio de cobre, simples e não mais duplas, permitiam o vibrato expressivo, os delicados ligados, trinos, mordentes e portamentos. Boa parte da música para violão podia ser tocada por amadores. Não faltavam, porém, composições para o violonista de técnica avançada ou para o virtuoso. Os grandes compositores foram, também nesse século, via de regra, grandes executantes e, em sua maioria, tinha conquistado fama como instrumentistas antes de serem reconhecidas suas qualidades criativas. Dentre os vários violonistas e compositores da época destacamos Mauro Giuliani, Fernando Sor, Dionisio Aguado, Fernando Carulli, Mateo Carcassi, Napoleão Coste, Antonio Torres entre outros.