O Violão nos séculos XVI e XVII
Um fato importante ocorreu em fins do século XVI, ou pelo menos ficou mais evidente à partir desta época. É o surgimento de uma guitarra que possuía um par de cordas a mais do que a guitarra renascentista, passando portanto, a ter cinco pares de cordas (também chamada de cinco ordens). Isto foi atribuído a Vicente Espinel (1550-1624) que era poeta, novelista e músico. Levado por seu espírito inquieto e vibrante, percorreu diferentes países e especialmente a Itália, onde permaneceu por longa temporada. Seus dotes geniais de músico e poeta despertaram a admiração de intelectuais e músicos que integravam os mais herméticos centros de arte. Parece ter sido neste ambiente que floresceu e foi aceita a sugestão de Espinel de acrescentar um par de cordas a guitarra. Segundo testemunhos da época, os melhores guitarristas adotaram os instrumentos à maneira de Espinel, e este foi então chamado de “Guitarra Espanhola”.
O “violão” espanhol de 5 cordas começou sua ascensão surpreendente em popularidade próximo ao fim do século XVI. Em 1606, com a publicação do livro de música “Alfabeto” para o violão de 5 cordas de Girolano Montesardo, os italianos tomaram o violão espanhol e fizeram-no seu próprio. Deve-se lembrar que a música e o estilo italiano musical foram forças dominantes por toda a Europa e Inglaterra durante o fim do século XVI e na maioria do século XVII. Por isso, não é surpresa que a história do violão na era barroca seja primariamente uma história de violonistas italianos e de outros, por eles influenciados.
De 1606 a mais ou menos 1629, o único estilo de música para violão publicado foi o que usava o sistema “Alfabeto” (italiano). Os cerca de 69 livros impressos entre estas datas contêm centenas de danças, peças populares e canções com acompanhamentos italianos e espanhóis. Nicolau Doizi de Velasco, um português a serviço do rei Felipe IV de Espanha e de Portugal publicou um extenso tratado sobre a guitarra em 1640, intitulado “Nuevo modo de cifra para tañer la guitarra com variedad y perfección”, que é atualmente o primeiro livro de instrução para guitarra realmente compreensível, que ensina teoria, encordoamento e afinação.
É importante notar-se que no final do século XVII o alaúde desaparece, e até aproximadamente a segunda metade do século seguinte a guitarra de 5 cordas ou “guitarra espanhola” permaneceu, senão em absoluto esquecimento (como a vihuela um século antes), ao menos, em profunda apatia. Salvo as figuras de algumas poucas personalidades que já foram citadas anteriormente, a guitarra não despertou o interesse dos grandes compositores neste período que coincide com a época da música barroca. Só o povo guardou de maneira íntima e fiel seu culto à guitarra. Aragón, Valência, Andaluzia e os filhos de países que herdaram os últimos espanhóis, não deixaram nunca de expressarem nele seus próprios sentimentos.